quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ian



            Maddy finalmente deitou, ainda sentindo seu pulso latejando e inchando como um balão, apagou as luzes e ficou lembrando do beijo e de como Ian era  forte.
            Ouviu o som do trinco da porta virando, e viu o vulto de Ian se encostando na porta. Ele a observava, sem fazer nem barulho ou movimento, apenas a olhava.
- Estou acorda - Maddy disse sem olha-lo.
- Eu sei, só não quero entrar.
- Por que? - ela disse se sentando na cama
- Olha Maddy, desculpe, eu te machuquei e eu acho que eu já te causei problemas demais...- tentava se explicar, enrolando-se, atropelando as palavras.
- Talvez eu queira ter problemas. - o interrompeu e acendeu o pequeno abajur.
            Ian se aproximou da cama, tentando não invadir o espaço dela. Ela apenas o olhava, os dois em um silencio abrangedor, que fazia Ian piscar nervoso. Agora já estava perto demais para recoar, sentou-se na cama, ao lado de Maddy, a olhou e segurou seu pulso.
- Me desculpe. - disse enquanto examinava o pulso, roxo e inchado.
- Não precisa se desculpar, eu to bem.
- Maddy, acho que eu devo me afastar, porque sei lá....- ficou sem fala - você trás a tona o que tem de mais violento e cruel em mim.
            Maddy ficou quieta e olhou para ele, tentando entende-lo.
- Eu acho que eu não posso ficar perto de você, eu posso te machucar.
- Ian,eu não sou tão frágil, eu aguento.
- Mas eu não, eu não posso te machucar mais.
            Ian saiu do quarto, batendo a porta, e sentindo seu coração sendo queimado. Chorou sentado dentro do carro, deu um soco no volante, pegou um pedaço de papel e começou a escrever uma carta final para Maddy.
"Querida Maddy
            Desde aquele dia, que eu te confundi com a Olive, pensar em você tem sido rotina, tem sido tão normal quanto respirar. Mas agora, eu só penso em ter você comigo, ser seu, apenas seu. Dormir com você, acordar com você, viver com você, morrer com você, talvez pode parecer tão patético, tão clichê, mas é o que eu sinto. Eu me apaixonei por como você é fria e talvez um pouco inconsequente. Mas é assim, exatamente assim que eu gosto de você.
            Usar palavras bonitas não vai ser suficiente. Hoje foi o seu pulso, amanha pode ser o seu coração, eu não quero quebra-lo, então, me afastarei, por um tempo, talvez um longo tempo.
            Uma vez, um amigo me perguntou " Quantas vezes você se apaixonou?" e eu respondi " o suficiente para não querer sentir aquilo nunca mais" Mas sim, agora sobriamente eu respondo essa pergunta a você. Eu me apaixonei uma vez, por uma menina linda, a mais linda que já conheci, ela é fria, é adora me responder mal, talvez ela me odeie, mas dói, dói ama-la tanto, e saber que por medo não posso ter lá e talvez perca o pouco dela que me pertence por descuido.
            Agora, nesse exato momento, estou no carro, usando o verso desse anuncio de Super Mercado. Sinceramente, estou um pouco choroso.  Ainda consigo ver que a luz do seu abajur bege ainda esta acessa e você está olhando para fora, sem saber que eu estou te observando de dentro do carro.
            Poderia contar tudo para você, meus maiores medos, meus piores segredos, mesmo sem querer, eu confio minha vida a você. Acho que depois de alguns meses Adrian ira morar com sua Irmã, e eu estarei longe, bebendo como um idiota, me sentindo mal por ter te deixado.
            Não espero que me perdoe por isso e também, não espero que esteja me esperando quando eu voltar. Não me espere, viva a sua vida, finja que nunca me conheceu, finja que eu nunca te amei. Sim, eu te amei, eu te amo, e provavelmente quando eu estiver com meus netos, com os cabelos brancos e com a vista cansada eu ainda me lembre do amor tão profundo e tão repentino que senti.
                                                                       Eu te amo,
Ian"
            Ian secou os olhos, e colocou aquele anuncio por baixo da porta. Saiu, dirigindo feito um adolescente. Foi besteira, pensou ele. E foi, ele não deveria ter falado tudo aquilo, muito menos falado que a amava, ninguém ama alguém com poucos dias de convívio. Ele feriu seu pulso, desculpas seriam o suficiente, drama, um puto drama. Pensou em voltar a tempo, bater na porta, pegar aquele papel e joga-lo fora, e abraça-la novamente e se render por desculpas.
            Estava quase amanhecendo, e Ian dirigia,dirigia para lugar nenhum. A paisagem corria rápido, e em sua mente a única coisa que ele se lembrava era do beijo de Maddy, do gosto amargo e como os lábios dela eram macios. 
            Quem é ela? Ele pensava, pensava com força; Era um a rua sem fim, com montanhas a cercando, e aquela estrada estava vazia, apenas Ian e seus pensamentos profundos. Olhou para o celular e viu que tinha algumas mensagens, a ignorou, sabia que era Adrian, com seu tom de papai mandão e o ordenando para voltar para casa. Preferiu não atender, seria o melhor a ser feito.
            Estacionou um carro, em uma paralela, ficou lá dentro, ouvindo uma musica irritante,e novamente seu celular tocou, decidiu atender.
- Fala - foi seco.
- Ian, aonde você está? - Adrian disse rápido, com aquele tom irritante.
- E é da sua conta?
- Sim, eu sou seu melhor amigo, eu tenho que saber por onde você anda.
- A Maddy está bem? - Ian perguntou, esquecendo de tudo.
- Não, ontem eu a Isabella fomos pra casa dela, e a Maddy estava chorando no quarto, e a Bella me ligou e disse que ela ainda está dormindo - Adrain fez um pausa- Você sabe de alguma coisa?
            Ian desligou o celular, e deixou aquela musica irritante ainda tocava, sentiu novamente aquela vontade de fazer o caminho de voltar e abraçar Maddy, seria inútil. Provavelmente, ela já estaria feliz, ou estaria amena.   " Ela não sente nada por mim" Ian pensou, e pensou aquilo por muito tempo. Fingir : De longe era a melhor opção, fingir que nunca nada aconteceu e que aquele maldito carro quebrou e ele conheceu Maddy, era melhor passar uma borracha por cima de tudo aquilo, era melhor fugir da realidade e esperar por um final meio feliz. Sem ela, ele nunca seria completamente feliz.
            Mas a vida não é conto de fadas, na vida real os vilões ganham ou vão em cana. E os moçinhos e donzelas se fodem bonito por serem sempre bons, por serem bons com todos. No mundo real bondade não é validada, mate e viva ou viva e morra, é a lei mais valida do mundo. Alguns conseguem matar e viver, mas não conseguem serem felizes. Abrir mão.
            Agora, ele fazia reflexões, com o carro totalmente parado, em uma rua deserta, havia lugar melhor? Sim, a cama de Maddy, talvez o que mais doía era que estava perdendo seu melhor amigo para uma garota, e essa garota era irmã de Maddy. Teve que se afastar, mas dessa vez por mal.
- Oi, sou eu, eu sinto muito, sinto muito.... não sei, por tudo o que causei. Acho que você deveria voltar pra casa...
            Ouviu aquela mensagem e novamente sentiu seu coração pulsando em seu pescoço, ouvir a voz dela era tão dolorido, sabia que havia lhe causado mal, desligou o celular, dessa vez ninguém o incomodaria, queria ficar sozinho, agora, amanha,talvez para sempre;

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